quarta-feira, 30 de abril de 2014

Fé!

O que é e o que não é fé?
Guy Richard17 de Abril de 2014 - Teologia

O que, então, é fé? Historicamente, o cristianismo ortodoxo respondeu essa a questão distinguindo três principais elementos que, juntos, compreendem a fé salvífica. Falando de maneira geral, três palavras latinas foram usadas para identificar esses três elementos: notitia, ou “conhecimento”; assensus, ou “assentimento”; e fiducia, ou “confiança”
O primeiro elemento da fé salvífica é notitia, ou conhecimento, que aponta para o fato de que a fé genuína deve crer em alguma coisa. Em outras palavras, ela deve ter conteúdo intelectual, deve ser baseada no conhecimento de certas verdades fundamentais. Romanos 10.9, que afirma que “se... creres que Deus ressuscitou [Jesus] dentre os mortos, serás salvo” há um conteúdo doutrinário para a fé. Fé significa crer em certas proposições; nos exemplos citados acima, as proposições são “que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos” e “que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus”.
O segundo elemento da fé salvífica é assensus, ou consentimento; parecer favorável. Isso se refere à convicção intelectual de que o conhecimento que alguém possui é factualmente verdadeiro e pessoalmente benéfico. Nós vemos esse elemento de fé retratado em passagens bíblicas como João 5.46-47; 8.31-38, 45-46; 10.37-38; 14.11.
O terceiro elemento da fé salvífica é fiducia, ou confiança. É de longe o mais importante dos três elementos que mencionamos. Sem esse elemento, a fé é meramente um empreendimento intelectual, esse elemento consiste em uma confiança pessoal em Cristo como ele é oferecido no evangelho, e uma completa confiança nele para a salvação. Ele é visto em passagens que falam sobre crer “em” Jesus (por exemplo, Jo 3.15-16; Rm 9.33; 10.11) e em passagens que falam de “inclinar-se” ou “repousar” sobre Jesus (Sl 71.5-6; Pv 3.5-6), “olhar” para ele (Jo 6.40; Hb 12.1-2), e “comprometer-se” com ele (2Tm 1.12; Mt 11.28; Sl 37.5).
Os três elementos ilustrados
Considere a seguinte ilustração. Imagine que quatro pessoas são lançadas sem comida ou água no meio de um campo muito extenso cheio de minas terrestres. Suponha que um dos indivíduos cegamente escolha um caminho pelo campo e siga naquela direção sem hesitar. Esse não é um exemplo de fé, mas é mais como aquela tolice da qual falamos anteriormente. Fé genuína não é cega; é baseada em conhecimento.
Mas suponha que um helicóptero apareça sobre os três homens que restaram, e do helicóptero, uma parte interessada anuncia o caminho pelo campo minado. Um dos homens confia na palavra da parte interessada e caminha de uma vez pelo campo minado. Isso também não é um exemplo de fé. Sim, as ações do homem são baseadas em conhecimento (o testemunho da parte interessada) e consentimento (o homem considera o testemunho como verdadeiro e benéfico em atender as suas necessidades). Mas a sua ação ainda é cega, pois é baseada em conhecimento insuficiente (isto é, o testemunho incerto de um completo estranho). Ela também carece do mais importante elemento da fé: confiança pessoal naquele que fala.
Suponha, contudo, que os dois homens restantes façam certas perguntas à parte interessada para discernir como ele veio a conhecer o caminho correto do campo, por que ele quer ajudá-los e o quão certo ele está de que pode guiá-los seguramente através das minas terrestres. Suponha que eles também peçam referências da parte interessada para ver se ele conhece alguém que eles conheçam ou a quem sejam relacionados. Suponha que eles até mesmo tentem testar as suas instruções, lançando objetos na direção que ele sugere para ver se parece estar livre de minas. Ao fazer tais coisas, os dois homens restantes estão reunindo conhecimento suficiente para decidir se podem confiar no indivíduo do helicóptero. Essa confiança (fiducia), que é edificada sobre um conhecimento (notitia) e consentimento a tal conhecimento (assentus), é do que se trata a fé. Tal fé não é “boba” de maneira nenhuma, mas completamente razoável.

Quando notitia, assensus e fiducia estão presentes juntos, há verdadeira fé. E quando há verdadeira fé, boas obras necessariamente seguirão. Boas obras não são parte da fé; elas fluem da fé. É somente a fé que recebe o dom de Deus da justificação, mas fé que justifica nunca estará sozinha; ela sempre se manifestará em boas obras.


AutorGuy Richard

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